Uma menina chamada Cecília muito cedo perdeu os pais e ficou entregue a uma avó que tinha grandes qualidades: era fiel às origens, contava histórias de mundos fabulosos, muito antigos, e falava-lhe de terras e de povos a descobrir, um dos quais lhes deixara a língua em que falavam; tão serena e sábia era a voz daquela avó, natural de umas ilhas distantes situadas no meio de um oceano, que a menina prometeu a si mesma que havia de realizar grandes viagens e havia de ver, com os seus próprios olhos, muitos daqueles mundos de que ela lhe falava e profundamente a fascinavam, incluindo o arquipélago de quem lhe alimentava tantos sonhos...
Já adulta, Cecília manteve a alma de criança, e ser poeta, amiga das crianças, que defendeu sempre, como a avó a tinha protegido a ela da solidão absoluta, era uma forma de conservar viva a sua própria infância, de que nunca se despediu, nem quando os anjos a chamaram para o Céu... A sua própria poesia, vinda do inconsciente, do mais fundo dela, cheia de símbolos e de ritmos ligados ao mar, à lua, à natureza, era uma música que parecia descer do Céu – e não era o seu nome o mesmo de uma padroeira da música?