Uma criança de seis anos é levada a atravessar o Atlântico, rumo ao desconhecido, numa época em que as viagens marítimas eram cheias de perigos, delas podendo facilmente sobrevir naufrágios e a morte. Mas, ao invés do medo, a criança, de nome António, sentiu um profundo fascínio pela travessia do oceano, que lhe serviu de lição para a vida, e para sempre ficariam gravados na sua alma aquele céu, aquelas ondas, aquele infinito que se escondia para além do horizonte. Chegada a terras da Baía, o centro de um Brasil que estava ainda a começar, parecia que o mar se prolongava por terra dentro, tal era a imensidão que os seus olhos podiam observar. Foi com naturalidade que abraçou os caminhos da Fé, que era uma semente que trazia dentro de si à espera de germinar.
Em adulto, António Vieira seria missionário, pregador, político, conselheiro real, diplomata. Um grande poeta chamou-lhe, séculos mais tarde, Imperador da Língua Portuguesa, pela mestria que tinha no uso da palavra e pela profundidade dos seus pensamentos. Sempre do lado dos desfavorecidos, incómodo para a Inquisição, aclamado na Europa, entre reis e rainhas, chamado de «Payassu» (Padre Grande) pelos índios que protegia, jamais consensual, utópico, idealista, visionário, foi até ao fim a criança que, com apenas seis anos, atravessou o Atlântico – mas acrescentou-lhe a sabedoria de adulto e uma experiência de vida que raros conseguem ter.