O pequeno reino de Portugal acabava de mudar a História do mundo com o descobrimento do caminho marítimo para a Índia. Agora havia que consolidar o domínio dos mares, estabelecer pontes firmes com os potentados do Oriente, tomar posse de novas terras a serem «descobertas». Foi nesse sentido que saiu de Belém, rumo a Calecute, a poderosa armada de Pedro Álvares Cabral, levando a bordo o escrivão-mor Pêro Vaz de Caminha, homem íntegro, leal a El-Rei, com o sentido do equilíbrio, imbuído de espírito de missão.
No Atlântico Sul acha-se uma terra paradisíaca, onde os homens e as mulheres têm uma inocência que espanta os europeus, ainda muito marcados pelo espírito medieval. Cabe a Pêro Vaz de Caminha escrever a Carta a El-Rei D. Manuel sobre o achamento de um novo mundo, a certidão de nascimento do que veio a ser o Brasil, uma grande nação de língua portuguesa. Continuando a armada a sua navegação para Calecute, onde se ia em busca de riquezas inimagináveis, nada mais se poderia comparar à visão do Paraíso, onde diferentes humanidades tinham confraternizado… O que valia mais? O ouro e as especiarias, ou o encontro com o «outro», em estado de «pureza», vulnerável, pronto a ser convertido à mensagem de Cristo? O escrivão-mor da armada de Cabral não tinha dúvidas de que a dignidade humana devia estar à frente da cobiça e da ambição, do espírito de saque que norteava muitos dos seus compatriotas…